domingo, 3 de agosto de 2014

O Mito Revisto pela Ciência.



Normalmente, a mitologia é tratada apenas como histórias fantásticas contadas por povos antigos e  primitivos, desprovidos da nossa Gaia Ciência. Muitos desconhecem a importância que esses mitos tiveram na formação da humanidade. Os mitos foram criados na Antiguidade para explicar os fenômenos da natureza, para lidar com as dúvidas crescentes da alma humana, a medida que esta tomava mais e mais consciência do seu lugar no mundo.

E uma das coisas mais impressionantes sobre os mitos, não importa em qual cultura, em qual base religiosa, há uma impressionante semelhança entre eles, vários pontos em comum, apesar de terem sido formados em lugares e épocas diferentes.

O dilúvio, por exemplo, retratado na bíblia e constituinte da cultura judaica está presente em diversas outras culturas. Estima-se que haja mais de 500 versões do diluvio, espalhadas por todos os cantos do mundo, em tribos extremamente remotas e em gigantes culturas, como na China, Babilônia, País de Gales, Rússia, Índia, América, Hawaii, Escandinávia, Sumatra, Peru e Polinésia. 

Outro aspecto em comum é a condenação do homem pela desobediência aos deuses. Desobediência essa, trazida pela mulher. Assim como Eva e a maçã, a cultura mítica de vários povos têm seus personagens para representar a dor e o sofrimento humano, além da morte, é claro. A mitologia grega, por exemplo, nos conta que Prometeu, o criador da humanidade, roubou o fogo do Olimpo, para dar ao homem. O fogo representava a inteligência para construir moradas, defesas e, a partir disso, forçar a criação de leis para a vida em comum. Surge assim a política para que os homens vivam coletivamente, se defendam de feras e inimigos externos, bem como desenvolvam todas as técnicas. Este ato enfureceu Zeus, o deus dos deuses, que planejou sua vingança. Para isso, pediu a Hefestos que modelasse a mais bela mulher a partir de argila, pediu as deusas que a enfeitassem, e soprou o vento da vida em seu corpo. O seu nome era Pandora, e Zeus a deu de presente para o irmão de Prometeu, Epimeteu. Ele, no entanto, alertou seu irmão para que não aceitasse Pandora, e não permitisse que ela abrisse a caixa, da qual fora presenteada.

Ainda mais furioso, Zeus acorrentou Prometeu a um monte e lhe impôs um castigo doloroso, em que uma ave de rapina devoraria seu fígado durante o dia e, à noite, o fígado cresceria novamente para que no outro dia fosse outra vez devorado, e assim por toda eternidade.

No entanto, para disfarçar sua crueldade, Zeus espalhou um boato de que Prometeu tinha sido convidado ao Olimpo, por Atena, para um caso de amor secreto. Com isso, Epimeteu, temendo o destino de seu irmão, casou-se com Pandora.  Ela, desobedecendo Prometeu, abriu a caixa enviada como presente , espalhou todas as desgraças sobre a humanidade (o trabalho, a velhice, a doença, as pragas, os vícios, a mentira, a morte, etc.), restando dentro dela somente a esperança, com o seu angustiante significado ambíguo, pois pode tanto representar a vida em sua totalidade, como também o prolongamento do sofrimento de viver, perpetuado ao longo de gerações por essa mesma esperança.

O mais impressionante, no entanto, é que ao longo da escalada humana  rumo a um conhecimento científico verdadeiro amparado pela razão, que já dura mais ou menos 400 anos, várias descobertas que impactaram a história e que foram estudadas, pesquisadas e revisadas chegam a uma assombrosa semelhança com os mitos da criação da antiguidade!!!!!!!!

A questão é tão séria que em agosto de 2013, nos dias 29 e 30 de agosto, aconteceu no Rio de Janeiro a conferência Mitos Cosmogônicos em que físicos, cosmólogos, antropólogos, filósofos, mitólogos e psicanalistas se reuniram para examinar, à luz do conhecimento atual dessas áreas, as diferentes versões da criação do mundo e outras questões.

O Big Bang, por exemplo, que é a teoria mais aceita da origem do universo, diz que tudo o que existe, inclusive o tempo, foi criado a partir de um único ponto, menor do que  a cabeça de um alfinete, ou seja, infinitamente pequeno e infinitamente denso, que colapsou, e se expandiu desde então. Isto está perfeitamente de acordo com a criação a partir do nada do mito da criação no cristianismo e do judaísmo, por exemplo. Além disso, está de acordo também com a filosofia de Agostinho de Hipona, de que Deus está situado fora do tempo.

Outro paralelo que se pode traçar é da origem da matéria, dos elementos químicos dos quais somos formados. A ciência diz que todos os elementos conhecidos são formados nas estrelas, começando pelo hidrogênio, que à alta pressão e calor, por fusão nuclear, é convertido em hélio e assim por diante. Isso até que, seja produzido ferro no núcleo da estrela, fazendo com que a gigante exploda sobre sua própria grandeza, dando origem a uma supernova, que fornece a energia suficiente para formar os elementos mais pesados. A CIÊNCIA DIZ QUE SOMOS POEIRA DE ESTRELAS!!!  Ora, isso pode perfeitamente ser adequado ao mito cristão, de que somos feitos do pó("Do pó viemos e ao pó tornaremos.") e a mitologia grega, que diz que fomos feitos de barro!!!!!! 

Existem diversas teorias tentando explicar essas semelhanças, como a de Carl Jung, que acredita que isso é produto do subconsciente coletivo. Mas apesar das teorias, o que mais me chama a atenção é que, em meio a um mundo confuso, cheio de sofrimento, morte e principalmente dúvida, essa semelhança acende uma luz de esperança de que há uma ordem, uma explicação, um Deus por trás do véu de mistério e angústia que envolve nosso universo. E mais uma vez, retornamos a dúvida da Caixa de Pandora: Será a esperança boa ou má?

















sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Grandes Diretores ao Longo da História e Minhas Impressões Sobre Eles - Fritz Lang


Biografia

Filho de um construtor, Friedrich Christian Anton Lang cursou a faculdade de arquitetura, na Universidade de Viena. Depois de viajar e trabalhar em diversos países da Europa, Ásia e norte da África, entre 1919 e 1914, Lang estabeleceu-se em Paris e começou a trabalhar como pintor.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Lang tornou-se oficial do exército austro-húngaro. Ferido em combate, em 1916, passou a criar roteiros para cinema, principalmente de filmes de terror e de suspense.

Com o fim da guerra, mudou-se para Berlim para trabalhar com o produtor Erich Pommer. Em 1919, foi lançado o filme "O Gabinete do Dr. Caligari", de Robert Wiene, cujo roteiro foi parcialmente escrito por Lang.


Entre 1919 e 1920, Lang lançou uma série de filmes intitulados "Die Spinnen", que o tornaram conhecido. O cineasta deu início ao expressionismo alemão, uma estética que dá vazão às reações subjetivas, criadas por objetos e cenários de grande intensidade visual, explorando as distorções e o uso do preto-e-branco.

Sombras e Horror

Fritz Lang iniciou sua carreira cinematográfica no período entre guerras. Nesse momento da história alemã, o povo e a cultura se sentiam humilhados e derrotados pela Primeira Guerra Mundial. Na tentativa de resgatar a supremacia cultural e o orgulho alemão, uma corrente de filmes surgiu, principalmente na República de Weimar, tendo como característica artística o expressionismo.

Pode-se dizer que Fritz Lang é o personagem principal do Expressionismo alemão, com filmes memoráveis e de alcance ilimitado. Seguindo a linha expressionista, seus filmes buscam criar um ambiente em que a realidade possa ser compreendida individualmente. Assim, seus filmes são uma experiência única para cada pessoa, permitindo múltiplas interpretações, dependendo de como o expectador lida com o mundo. Diga-se de passagem, não é uma coisa muito fácil de se fazer,pois é preciso estar em contato com diversos tipos de realidade e de mundos; sintetizar tudo isso e criar uma obra que faça brotar diversas reflexões e considerações. 

Os filmes expressionistas são marcados pela distorção das imagens, pela falta de proporção, pelo uso criativo e único de sombras. No expressionismo, talvez esteja implícita a ideia de que não existe uma realidade em si mesma, que componha um todo, e sim que o mundo ao nosso redor, o que acreditamos como sendo imutável, apenas seja um conjunto de experiências processados de forma singular. Assim sendo, não é possível ao homem ter uma visão total da realidade, e sim, apenas de alguns pedaços dela.


Além disso, Fritz Lang buscava mostrar aspectos trises de alguns mecanismos da sociedade, com um certo pessimismo, refletindo de certa forma, a época conturbada em que vivia. A primeira grande distopia retratada no cinema, Metropolis, foi feita por Fritz Lang. Uma obra genialmente dirigida, tratando de aspectos sociais da época e projetando numa sociedade futurista , as consequências do "progresso humano".



O estilo de Fritz Lang segue essa linha artística, recheado por questionamentos sociais e também a respeito da natureza humana. São diversas obras magníficas, que valem a pena serem vistas, por ainda serem atuais, além de muito ricas cenicamente.